A Pertença Feminina na Maçonaria Contemporânea: Reflexões a Partir de Campina Grande por Elas

 

Ao longo da escada do tempo, onde tantas pedras se perdem no esquecimento do mundo profano, há vozes que guardam a Palavra e conservam a Luz do Oriente — e que, unidas como obreiras do espírito, elevam seus cânticos sobre colunas firmes, ajustando o Compasso aos traços do Esquadro e retomando a Construção do Templo interior, onde mora o sentido mais elevado da Iniciação. Assim é o livro Campina Grande por Elas, idealizado pela professora Yara Macedo Lyra, nossa companheira no Rotary Club Campina Grande, que com mãos firmes e visão generosa, reuniu os relatos de 71 mulheres que entrelaçam, com sua presença e ação, o tecido social de Campina Grande.

 

Mais que biografias, o livro apresenta pequenas constelações de vida. Cada mulher ali é uma estrela que clareia um campo: educação, saúde, direito, cultura, comércio, tecnologia — e tantas outras esferas onde a inteligência, o trabalho e a sensibilidade feminina se fazem luz. São mulheres que transformam, com gestos cotidianos, a paisagem concreta da cidade e a paisagem simbólica da existência. Campina Grande, a chamada “Capital do Trabalho”, é aqui também elevada à condição de “Capital da Inspiração”.

 

Diante de tal testemunho, ecoa uma pergunta antiga e urgente: por que não iniciar mulheres na Maçonaria?

 

A Maçonaria se diz escola de virtudes, caminho de lapidação moral, busca da verdade. E que outros caminhos trilham essas mulheres senão esse — o do aperfeiçoamento constante, da fraternidade ativa, do compromisso com o bem coletivo? Se é pela obra que o ser revela sua essência, estas mulheres já são, de fato, iniciadas na construção simbólica do mundo.

 

A tradição, por mais venerável que seja, não pode cegar a razão nem tolher o espírito do tempo. O que foi pensado para um mundo de silêncios e exclusões já não serve ao mundo onde vozes antes caladas agora se fazem ouvir. O templo onde se busca a Luz deve ser grande o bastante para acolher todas as formas legítimas de sabedoria — inclusive a feminina, tantas vezes relegada à periferia do rito, mas sempre presente no centro da vida.

 

Incluir mulheres na Maçonaria não é apenas um gesto de equidade, é um retorno à essência: reconhecer que o mérito, a virtude e o espírito de busca não têm gênero. É permitir que a rosa floresça ao lado do compasso, e que o cinzel não repouse apenas na mão do homem, mas também naquela que tece, cura, ensina, escreve, lidera.

 

Campina Grande por Elas é, nesse sentido, mais que um livro — é um espelho. E nele, a Maçonaria contemporânea pode se olhar e, quem sabe, se refazer com mais beleza, mais verdade e mais justiça. Pois onde há alma que sonha e mãos que constroem, ali está o sagrado.


Hiran de Melo - Decano da ARLS Fraternidade, Força e União - GOPB


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