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Natalidade no Cotidiano

 

O Natal, para diversas culturas, marca o renascimento da luz e da vida. Seja como a celebração do Deus Sol ou o nascimento de Jesus, a data evoca a ideia de renovação e esperança. No cristianismo, em particular, o Natal simboliza o amor divino que se fez homem, experimentando as alegrias e as dores humanas.

 

A História do Amor

 

A história do amor é rica e diversificada, com nuances que se estendem por diversas culturas e épocas. Desde o amor compassivo dos budistas até o amor fraterno dos gregos, passando pela busca por reconhecimento e pelas relações interpessoais contemporâneas, as concepções sobre o amor são vastas. No entanto, o amor cristão, especialmente o amor preconizado por Jesus, apresenta uma dimensão única.

 

O Amor de Jesus

 

O amor vivido por Jesus, e atualizado em Francisco de Assis, é um chamado à integralidade, à aceitação tanto de si mesmo quanto do outro em toda a sua complexidade. Para amar verdadeiramente o próximo, é fundamental amar a si mesmo, incluindo não apenas as qualidades, mas também as sombras e as imperfeições. A auto aceitação é o primeiro passo para construir relacionamentos autênticos e compassivos.

 

Forças Opostas

 

Somos seres complexos, compostos por forças opostas: somos fortes e fracos, corajosos e medrosos, saudáveis e doentes. Essa dualidade faz parte da natureza humana e do universo. Assim como uma célula carrega em si a complexidade de um organismo inteiro, nós carregamos em nós a complexidade do mundo. Aceitar nossas sombras é o primeiro passo para superá-las.

 

A tradição alquimista sintetiza essa jornada interior em uma máxima: "O que está acima é como o que está abaixo". Essa profunda verdade nos convida a reconhecer a nossa própria complexidade, acolhendo tanto as virtudes quanto as sombras que habitam em nosso ser.

 

Amar o próximo

 

Se não podemos aceitar nossas próprias sombras e imperfeições, como poderemos acolher as do próximo? Amar o próximo, especialmente aquele que nos causa sofrimento, exige, antes de tudo, amar a si mesmo integralmente. Isso significa aceitar as imperfeições, as limitações e até mesmo as fraquezas que compõem a nossa humanidade.

 

O medo é o contrário do amor

 

O medo, e não o ódio, é o maior obstáculo ao amor. O medo da morte, do envelhecimento, da solidão. Ao nos apegarmos à juventude eterna, por exemplo, estamos fugindo da própria vida, com seus altos e baixos. Amar na idade madura é aceitar o ciclo natural da vida, com suas alegrias e desafios.

 

A impermanência é uma lei universal. Tudo que nasce um dia perece. Apegar-se ao que é transitório, seja a beleza, a juventude ou as posses materiais, é cultivar o sofrimento. A verdadeira felicidade reside na aceitação do fluxo da vida, no desapego e na valorização do momento presente.

 

Celebrar o Natal em Família

 

O Natal, para muitos, é sinônimo de reunir a família e celebrar o amor. Em meio a tantas transformações, é comum encontrarmos marcas do tempo em nossos entes queridos. A beleza, porém, transcende a juventude e reside na essência de cada pessoa. Celebrar o Natal é também celebrar a vida em todas as suas fases, acolhendo cada um como ele é, no presente.

 

A celebração da beleza em todas as suas formas é um tema universal, presente em diversas culturas ao longo da história. Um exemplo marcante é o cântico nupcial que, desde os tempos antigos, exalta a beleza da amada, comparando-a a elementos da natureza. A frase "Eu sou negra, todavia sou bela" é um hino à diversidade e à aceitação de si mesmo, transcendendo padrões de beleza impostos pela sociedade.

 

"Eu sou negra, todavia sou bela,

Ò filhas de Jerusalém.

Sou como tendas de Cedar, como os pavilhões de Salma".

 

Segundo o Padre Leloup, as tendas de Cedar, erguidas no deserto, eram rústicas e escuras, marcadas pelas intempéries. Já os pavilhões de Salma, leves e coloridos, representavam a festividade e a beleza.

 

Para apreciar plenamente a beleza da minha amada, preciso olhar além das aparências, reconhecendo as marcas deixadas pela vida em sua alma. Assim como ela, sou um mosaico de luz e sombra, de alegrias e dores. A aceitação dessa complexidade em mim me permite acolher a mesma complexidade no outro.

 

É nessa reciprocidade, nessa aceitação mútua das nossas luzes e sombras, que o amor verdadeiramente floresce. O amor que transcende a beleza física e se aprofunda na alma, reconhecendo e valorizando a singularidade de cada um de nós.

 

Exortação

 

Amados irmãos e irmãs, não adiemos a compreensão do verdadeiro significado do Natal. A cada dia, podemos experimentar a plenitude da vida, acolhendo nossas fragilidades e aprendendo a olhar para o mundo com os olhos da compaixão e da misericórdia. A criança que habita em cada um de nós nos convida a enxergar a beleza em todas as coisas e a amar incondicionalmente.

 

Assim como o sol ilumina a terra, dissipando as sombras, o amor de Jesus nos irradia, trazendo luz e esperança para nossas vidas. Por um breve instante, ao meio-dia, a sombra desaparece, revelando a intensidade da luz solar. Da mesma forma, no Natal, celebramos o nascimento da Luz do mundo, que nos convida a viver em plenitude e a amar incondicionalmente.

 

Que neste Natal, a luz do amor de Jesus Criança ilumine seus corações, guiando seus passos e trazendo paz e alegria para suas vidas.

 

Hiran de Melo

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