A Sabedoria como Arte de Viver
Por Hiran de Melo
O estoicismo convida o homem a reencontrar
seu centro, a viver com dignidade, a suportar a adversidade com coragem e a
agir com retidão. Para o maçom, essa filosofia ressoa como um chamado à
maestria interior. Somos aprendizes do cosmos, obreiros da razão, construtores
do espírito.
Assim como o templo simbólico representa a
ordem e a harmonia do universo, a vida estoica é uma edificação diária da alma
em consonância com a lei cósmica. O estoicismo é, portanto, uma via iniciática
de sabedoria, onde o divino não está em um além inacessível, mas na beleza da ordem
presente em tudo.
“O mundo é um ser animado, dotado de
consciência, inteligência e razão”. — Cícero, ecoando os primeiros estoicos.
Estoicismo e Tradição Iniciática: A Harmonia Cósmica como Fonte da Sabedoria
Para os Antigos, o Bem, o Justo e o Belo não
eram construções humanas, mas expressões de uma ordem natural objetiva,
anterior e superior à vontade dos homens. Tal como na Maçonaria, que busca
alinhar o obreiro à harmonia do universo, o estoicismo ensina que viver
conforme a natureza — racional, ordenada e divina — é viver com sabedoria.
Não se trata de moral subjetiva, mas de uma
ética cósmica: o que é bom é o que está em conformidade com a razão do mundo, e
o que é mau, aquilo que a contraria. Assim, o homem virtuoso é aquele que
reconhece seu lugar no Todo e se ajusta a ele. É a pedra bruta sendo talhada
para integrar-se à geometria universal do Templo.
Hoje, essa visão ecoa na ecologia: quando se
fala de "biosfera" ou "ecossistemas", retoma-se, em outros
termos, a ideia ancestral de cosmos — um organismo ordenado que o ser humano
deve respeitar e, idealmente, imitar. Como diz Hans Jonas, “os fins do homem
moram na natureza”, reafirmando o princípio estoico de que a ética deriva do
próprio ser do mundo.
A Morte e a Eternidade: Do
Medo à Serenidade
O estoicismo, mais que uma ética, é um
caminho de salvação. Diferente das religiões, ele não promete imortalidade por
meio de um deus, mas convida à superação do medo da morte pela razão e pela
consciência cósmica.
Segundo Epicteto e Marco Aurélio, a morte não
é um fim absoluto, mas uma transformação dentro do ciclo eterno do cosmos.
Assim como as estações se sucedem, também nós passamos de um estado a outro —
jamais anulados, apenas transfigurados. O sábio, ao compreender isso, vive e
morre como um deus: sereno, pleno, integrado ao Todo.
Salvação pela Razão, não pela Glória
Os Antigos propunham três formas de vencer a
finitude: pela procriação, pela glória e pela filosofia. As duas primeiras
falham em oferecer verdadeira permanência ao indivíduo. Só a terceira — a via
da sabedoria — permite que o homem ultrapasse seus temores, encontre sentido na
existência e participe, conscientemente, da eternidade do cosmos.
Esse é o verdadeiro labor do iniciado: por
meio de exercícios filosóficos e disciplina moral, transformar a filosofia — o
amor à sabedoria — em sabedoria viva. É a prática que permite ao maçom vencer a
morte interior, silenciar os medos e habitar em paz dentro de si e do universo.
Conclusão
Como ensinavam os estoicos e como ecoa a Tradição Maçônica, a verdadeira
libertação não vem de fora. Cabe a cada um de nós ajustar-se à ordem do mundo,
vencer a ignorância e a angústia, e participar, com consciência e retidão, da
perfeição do cosmos. Nessa caminhada, aprendemos não apenas a viver bem, mas a
morrer em paz — não como fim, mas como continuidade na grande Obra do Universo.
Hiran de Melo
Presidente da Excelsa Loja de Perfeição
“Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba,
Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA da Maçonaria para a
República Federativa do Brasil.
Referência
básica
Luc Ferry - Aprender a Viver.
Comentários
Postar um comentário