Criar Novos Sinais de
Esperança
Amados Irmãos, jovens de espírito, não apenas
de idade,
Vivemos um tempo em que a superfície do mundo
se desvela, mostrando suas fissuras mais profundas. Um tempo em que boas
intenções já não bastam. As crises que nos cercam — sociais, espirituais,
silenciosas — não são apenas fenômenos externos: são apelos que tocam a nossa
essência. Diante delas, somos convocados não a responder com discursos, mas com
sinais. Não qualquer sinal — sinais de esperança.
A mensagem do Papa Leão XIV, por ocasião do
9º Dia Mundial dos Pobres, toca uma corda ancestral: a da responsabilidade que
não é imposição, mas vocação. Ele nos recorda — e o fazemos ecoar com convicção
— que nenhuma construção será justa se não estiver alicerçada na
espiritualidade vivida, na solidariedade encarnada, na ação que ultrapassa os
limites do ritual. A fé, se é verdadeira, precisa abandonar o refúgio das
palavras e se tornar forma, corpo, presença.
Como jovens maçons — jovens pela coragem de
recomeçar sempre — sabemos que a iniciação é apenas o limiar. O verdadeiro
labor acontece fora do Templo, onde a pedra bruta de cada dia nos desafia a
esculpir com justiça, promover dignidade e proteger a fragilidade alheia. A
esperança, que tantos hoje tratam como delírio ou fraqueza, é para nós um
compromisso. E como a âncora dos antigos navegantes, ela não nos prende, mas
nos fixa no essencial.
A esperança que se exige de nós não é
ingênua, tampouco passiva. Ela não é evasiva como um sonho. Ela é escolha:
deliberada, lúcida, difícil. Exige-nos olhos abertos e mãos disponíveis. E como
ensinou o sábio, tudo o que possuímos fora do sentido é vazio que engana.
Substituímos aqui a palavra “Deus” pelas luzes que buscamos — Verdade, Justiça,
Fraternidade — e encontramos o mesmo aviso: sem enraizamento, o excesso de bens
só aprofunda a escassez de ser.
A juventude maçônica carrega uma vocação
silenciosa, mas urgente: a de inventar o que ainda não existe. Estamos à beira
de um mundo que se desfaz — e de outro que ainda não nasceu. Nessa
encruzilhada, não podemos apenas observar. Somos chamados a ser presença
criadora, a moldar espaços onde o humano não seja descartado, onde o irmão
esquecido volte a ser visto com olhos de acolhida.
Dar pão é necessário. Mas como bem se diz, é
preciso transformar o forno da fome. As estruturas de miséria, abandono e
desesperança são mais que acidentes históricos: são construções humanas que
exigem desconstrução consciente. Por isso, o trabalho em Loja — nossos ideais e
rituais — não pode ser apenas celebração: deve transbordar em atos. Projetos
comunitários, acolhimento, escuta, educação, justiça restauradora — são as
colunas invisíveis que sustentam o novo templo da esperança.
O alerta é claro: os pobres não são objeto de
caridade episódica, mas sujeitos de uma verdade que interpela. São espelhos que
nos devolvem o rosto da realidade sem disfarces. A pobreza — material,
espiritual ou afetiva — é um clamor que nos obriga à resposta concreta. O canteiro
de obras da humanidade é vasto, e nosso ofício, inacabado.
Criar novos sinais de esperança é assumir que
o saber iniciático não nos foi dado para o adorno, mas para o testemunho. É
dizer com humildade firme: “Sim, eu sou responsável”. Não para dominar, mas
para servir. Não para brilhar acima, mas para iluminar junto.
Ao encerrarmos este Ano Jubilar, conforme nos
inspira o Papa, precisamos mais do que conservar os dons recebidos: devemos
transmiti-los como chama viva, não como herança estática. Que nossas promessas
não adormeçam no conforto do símbolo, mas despertem no risco da ação. Que o
conhecimento se torne serviço, a espiritualidade, presença; e a fraternidade,
justiça real e partilhada.
Sejamos, em nossa discreta existência, um
novo sinal de esperança. Um testemunho de que é possível unir fé e razão,
mistério e lucidez, ritual e vida — para edificar um mundo mais digno, mais
belo e mais humano.
Fraternalmente,
Hiran de Melo – Mestre Maçom Católico
TFA – Em espírito de Luz, Justiça e Esperança.
A Esperança em Construção
A
ilustração representa a esperança ativa e
transformadora. Mãos diversas emergem de uma base fragmentada e escura, simbolizando as crises do mundo,
mas estão unidas na construção de algo novo.
Desse
esforço conjunto, irradia uma luz cálida e intensa,
que simboliza a verdade, a justiça e a fraternidade.
Essa luz ilumina o ambiente, dissipando as sombras e mostrando o caminho para
um futuro mais promissor.
A
imagem, com sua paleta de cores contrastantes (tons escuros na base e luminosos
no centro), convida à ação e lembra que, mesmo diante das adversidades, a colaboração e a busca por ideais podem gerar novos
sinais de esperança e construir um mundo mais digno.
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