Fé e razão - dois Caminhos diferentes

 

Vamos falar de uma mudança importante que aconteceu na maneira de buscar a verdade, principalmente com a chegada do cristianismo. Antes disso, os filósofos gregos acreditavam que a razão, o pensar com lógica e clareza, era o melhor caminho para entender o mundo e até se aproximar do divino. A mente humana, para eles, fazia parte da própria ordem do universo. Pensar era uma forma de se conectar com o Todo.

 

Mas, com o cristianismo, esse caminho mudou. Para os cristãos, o mais importante deixou de ser a razão — o mais importante passou a ser a fé. Ou seja, o acesso a Deus não depende mais de pensar e raciocinar, mas de acreditar. A verdade, agora, vem da confiança na palavra de um homem muito especial: Jesus Cristo, que é visto como o Filho de Deus, o Verbo (ou Logos) encarnado.

 

Jesus não veio convencer ninguém com argumentos filosóficos, mas com sua vida, com seus atos e com os milagres que realizou. Por isso, os primeiros cristãos acreditavam nele não porque ele explicava tudo de forma lógica, mas porque ele inspirava confiança. Fé, nesse sentido, é confiar — e confiar profundamente.

 

A grande novidade cristã é essa: não somos salvos pelas nossas próprias ações ou virtudes humanas, mas pela fé em Cristo. Isso exige uma atitude diferente da filosofia: não é mais pensar por si mesmo, mas confiar em um Outro. É aqui que nasce a separação profunda entre a filosofia e a religião cristã.

 

No Novo Testamento, especialmente na Primeira Carta de João, isso fica muito claro. João não tenta provar racionalmente que Jesus é o Filho de Deus. Ele simplesmente dá o seu testemunho: “nós vimos, ouvimos, tocamos”. Ele está dizendo: “isso aconteceu de verdade, eu estava lá”. E o que ele espera é que você acredite — ou não. Mas não é uma questão de raciocínio, é uma questão de fé.

 

Jesus mesmo disse: “Bem-aventurados os pobres de espírito”, ou seja, aqueles que não confiam tanto na própria inteligência, mas têm humildade para crer. Já os “sábios” que confiam demais no próprio entendimento — como muitos filósofos da época — podem acabar perdendo o essencial por orgulho.

 

Filosofia e humildade: um embate espiritual

 

E aqui chegamos a outro ponto importante. Para viver essa fé cristã, não basta entender como os filósofos. É preciso humildade. Santo Agostinho e Pascal, dois grandes pensadores cristãos, insistem muito nisso. Eles dizem que o grande erro da filosofia é o orgulho — o orgulho de achar que a razão humana pode explicar tudo, até Deus.

 

Agostinho critica duramente os filósofos por não aceitarem que Deus tenha se feito homem, que tenha nascido pobre, sofrido e morrido na cruz. Para eles, isso era humilhante demais para um Deus. Mas é justamente aí que está o mistério cristão: o divino se fez humilde. E nós, para nos aproximarmos d’Ele, também precisamos ser humildes.

 

Agostinho ironiza os filósofos que se acham muito sábios, dizendo que eles estão tão cheios de si que não conseguem ouvir o Cristo dizendo: “Aprendam comigo, que sou manso e humilde de coração”.

 

A carta de São Paulo aos Coríntios reforça essa ideia. Para os judeus da época, um Deus fraco, crucificado, era absurdo. Para os gregos, era um insulto à razão. Mas para os cristãos, é justamente aí que está a grandeza: o Logos, o Verbo eterno, aceitou ser pequeno, humano e sofredor. E é preciso humildade para aceitar isso — tanto de quem crê quanto do próprio Deus que se fez carne.

 

Reflexão final para o maçom pensador

 

Na Maçonaria, onde buscamos a Luz, é importante reconhecer que há diferentes formas de se aproximar do Sagrado. A filosofia nos convida a pensar, a questionar, a entender. A fé, por outro lado, nos convida a confiar, a se entregar, a crer sem ver tudo claramente. Ambas têm seu valor, mas nem sempre caminham juntas.

 

A sabedoria, portanto, pode estar tanto na mente que busca quanto no coração que confia. E talvez a verdadeira Luz venha justamente do equilíbrio entre as duas.

 

Fé e Razão -  Dois Caminhos que se Cruzam

 

Na história da busca pela verdade, houve um momento marcante de virada: a chegada do cristianismo. Antes disso, os antigos filósofos gregos viam a razão — o pensar claro, lógico e disciplinado — como a principal estrada para entender o universo e até para se aproximar do sagrado.

 

Para eles, a mente humana era uma centelha do próprio Cosmos, e pensar era, de certa forma, rezar com o intelecto.

Com o cristianismo, esse foco mudou. Para os primeiros cristãos, o caminho até Deus não passava mais prioritariamente pela razão, mas pela fé — pela confiança profunda na palavra de Jesus Cristo, reconhecido como o Filho de Deus e a encarnação do Verbo (o Logos divino). Ou seja, não era mais só questão de pensar, mas de acreditar.

 

Jesus não veio disputar com os filósofos nos salões da lógica. Ele veio transformar vidas por meio do exemplo, da compaixão e dos sinais que realizou. Os cristãos não acreditavam nele porque ele apresentava argumentos irrefutáveis, mas porque sua presença inspirava confiança. Assim, fé passou a significar muito mais do que apenas crer: significava entregar-se com o coração.

 

Essa foi a grande revolução: a salvação não viria mais das nossas obras ou méritos pessoais — por mais nobres que fossem —, mas da fé em Cristo. A filosofia dizia: “pense por si mesmo”. O cristianismo dizia: “confie naquele que é o Caminho”. A partir daí, fé e razão seguiram caminhos paralelos, por vezes em conflito, por vezes se iluminando mutuamente.

 

Testemunho: a Verdade Encarnada

 

A Primeira Carta de João deixa isso bem claro: “O que vimos, ouvimos e tocamos”. João não argumenta; ele testemunha. Ele não quer vencer um debate, mas partilhar uma experiência. Ele diz, com simplicidade: “Eu estive lá. Eu vi. E por isso, creio”. A mensagem é direta: ou você acredita ou não. Mas não é uma questão de lógica — é uma questão de fé vivida.

 

Nos Evangelhos, Jesus diz: “Bem-aventurados os pobres de espírito”. Isso não significa ignorância, mas humildade espiritual. Quem se abre à fé não está rejeitando a razão, mas aceitando que há algo maior do que ela. Os sábios orgulhosos — os que só confiam em si mesmos — correm o risco de passar ao lado do mistério.

 

Filosofia e Humildade: A Chave está no Coração

 

Santo Agostinho e Blaise Pascal, dois grandes nomes da tradição cristã, nos lembram que a razão, sem humildade, pode se tornar vaidosa. Ambos criticaram duramente os filósofos que rejeitaram Cristo por acharem indigno que Deus se fizesse homem, pobre, sofredor. Mas é justamente nisso que está a beleza do cristianismo: o infinito que se fez pequeno para estar conosco.

 

Agostinho ironizava os sábios que, cheios de si, não conseguiam ouvir a voz mansa de Jesus dizendo: “Aprendam de mim, que sou manso e humilde de coração”. A humildade, para esses pensadores, é a porta estreita pela qual se entra no santuário da fé.

 

São Paulo, em sua carta aos Coríntios, diz que a cruz é escândalo para os judeus e loucura para os gregos. Mas para os que creem, ela é poder de Deus. O Logos, tão exaltado pelos filósofos, escolheu a fraqueza da carne para mostrar a força do amor. Essa escolha exige humildade — tanto de quem crê, quanto do próprio Deus que se deixa crucificar.

 

Reflexão Final ao Irmão Maçom

 

Na Maçonaria, onde buscamos a Luz que nos eleva, é fundamental reconhecer que fé e razão não precisam ser inimigas. Cada uma tem sua luz. A filosofia nos ensina a pensar, a investigar, a buscar sentido. A fé nos convida a confiar, a entregar-se, a encontrar o Sagrado mesmo quando a razão se cala.

 

Como ensinava Albert Pike, o verdadeiro iniciado aprende a equilibrar a Espada do intelecto com o Coração do entendimento espiritual. A sabedoria não está apenas em pensar profundamente, mas também em sentir com verdade. Assim como o esquadro e o compasso se complementam, a mente e o espírito também devem caminhar juntos.

 

Talvez, então, a verdadeira Luz — aquela que buscamos nos templos da Maçonaria e nas sendas da vida — venha justamente do ponto de equilíbrio entre o raciocínio firme e a fé serena.

 

Hiran de Melo

Presidente da Excelsa Loja de Perfeição “Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba, Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA da Maçonaria para a República Federativa do Brasil.

 

Referência básica

 

Luc Ferry - Aprender a Viver.

 

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