O que é a Filosofia? — Uma Reflexão para Maçons

 

Por Hiran de Melo

 

Nos últimos comunicados, recorremos a distintas visões filosóficas com o intuito de estimular, entre os irmãos, um olhar mais atento e reflexivo sobre os rituais maçônicos.

 

Nesta nova reflexão, voltamos nossa atenção a uma pergunta fundamental: o que é a filosofia? Para abordá-la, nos apoiaremos nos ombros de um pensador contemporâneo de grande lucidez: Luc Ferry, e em sua obra instigante, ‘Aprender a Viver’.

 

A Filosofia é, antes de tudo, uma busca: pela verdade, pela liberdade interior e pelo sentido da existência. Não se trata apenas de um exercício intelectual ou de um acúmulo de conceitos. Assim como o trabalho maçônico, filosofar é um processo de lapidação — da mente, do espírito e da consciência.

 

A pergunta chave que motiva este presente texto, não tem resposta única ou definitiva. Ela desafia gerações de pensadores porque toca o essencial: o fato de que somos seres finitos, conscientes de nossa mortalidade. E é justamente esse saber — o saber que vamos morrer — que nos impulsiona a perguntar:

 

Qual é o sentido da vida?

 

Como devemos agir?

 

Como lidar com o irreversível, com o tempo que passa, com a perda?

 

As religiões oferecem a promessa da salvação pela fé. A filosofia, por sua vez, propõe uma via diferente: enfrentar a condição humana com lucidez, sem se apoiar em garantias transcendentais. Ela convida à razão, à reflexão crítica e à coragem de viver sem certezas absolutas. Como os antigos iniciados, o filósofo busca vencer o medo — especialmente o medo da morte — por meio do conhecimento e da virtude.

 

Essa é também a jornada do maçom: caminhar da ignorância à luz, buscando a sabedoria, a justiça e a harmonia. Não por submissão a dogmas, mas por esforço pessoal, estudo e auto aperfeiçoamento. Filosofar, nesse sentido, é compatível com os valores iniciáticos: é aprender a morrer simbolicamente para renascer mais livre, mais consciente, mais verdadeiro.

 

A filosofia se articula em três dimensões fundamentais:

 

Teoria — compreender o mundo e a natureza do conhecimento.

 

Ética — refletir sobre a ação justa, a responsabilidade e a fraternidade.

 

Sabedoria — encontrar, pela razão e pela interiorização, uma forma de vida serena, livre e significativa.

 

A Maçonaria e a Filosofia compartilham um mesmo impulso: libertar o homem das correntes da ignorância e do medo. Ambas não impõem verdades, mas conduzem à busca constante por elas. O templo que se constrói é, antes de tudo, interior.

 

No maçom pode habitar a fé e a razão?

 

Sim. A fé e a razão não se excluem necessariamente — podem coexistir no ser humano que busca, simultaneamente, consolo e lucidez. O religioso orienta sua vida pela fé, confiando na promessa de salvação além da morte. O filósofo, consciente da finitude, busca superar o medo por meio da razão e da compreensão do mundo.

 

Na Maçonaria, muitos irmãos abrigam ambas: a fé, que habita o coração; e a razão, que ilumina a mente. No entanto, o caminho maçônico não impõe dogmas. Seus rituais são metáforas de um processo contínuo de transformação interior: a morte simbólica do homem velho e o nascimento do homem novo — mais desperto, mais generoso, mais fraterno.

 

Nessa jornada de aperfeiçoamento, mantemos acesa a chama da Esperança. Ela não é uma espera passiva, mas a confiança ativa de que, ao nos transformarmos, contribuímos aqui e agora para a construção de um mundo mais justo e mais perfeito.

 

Hiran de Melo

Presidente da Excelsa Loja de Perfeição “Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba, Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA da Maçonaria para a República Federativa do Brasil.

 

Descrição da Ilustração

 

A imagem retrata a jornada iniciática do maçom diante de um templo interior em construção, erguido com pedras translúcidas que irradiam luz. Esse templo simboliza o processo consciente de fortalecimento interior, sabedoria e virtude.

 

Uma escada ascendente aponta o caminho da elevação: a passagem da ignorância à compreensão. No topo inacabado, um feixe de luz rompe o céu, representando a busca contínua pela verdade — conquistada em etapas, com esforço e lucidez.

 

Ao assentar uma pedra, o maçom expressa o gesto simbólico do aperfeiçoamento pessoal. Um ato simples, que traduz a filosofia em prática: tornar-se, dia após dia, alguém mais justo, consciente e fraterno.

 

Cores suaves ao fundo criam um ambiente contemplativo, enquanto o brilho do templo e da luz destaca a liberdade que nasce do autoconhecimento. O estilo da imagem funde tradição e modernidade, evocando o caminho humano em direção à luz interior.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog