Recomeçar não é sinal de fracasso
Por Hiran de Melo
Nunca imaginei que
retornaria a um estado de vulnerabilidade, necessitando novamente de um guia,
após ter recebido a luz e vencido as trevas. Trabalhei arduamente, empunhando
ferramentas pesadas para demonstrar meu valor, e fui promovido, avançando no estudo
dos sentidos humanos e das artes liberais. Através da perseverança, conquistei
o mestrado, provando minha inocência e lealdade à Grande Obra e ao Mestre
Construtor.
Nesta
nova etapa da jornada, não houve tinidos de espadas ou trovões ameaçadores que
antes me cercaram. Como um recipiendário de barro, animado e conduzido por um
Ser Supremo em um chamado verdadeiro. Aqui estou, no templo do tempo e do
espírito, guiado em silêncio a uma porta secreta, onde tudo se transforma.
A
luz é novamente concedida a mim, reforçando o elo com o compromisso que assumi
ao recebê-la pela primeira vez. Mais uma batalha foi vencida; minha
vulnerabilidade transformou-se em coragem, e fui aceito entre os Mestres
Secretos. Carrego a esperança de que esta chave, confiada a mim, abrirá os
caminhos necessários para atingir o sublime cumprimento do dever: Amar, evoluir
e frutificar.
Aquele
que entendeu que o caminho nunca acaba - Deivid Emiliano Alves Guimarães – Mestre Secreto
Introdução
João Paulo II não entendia Jesus apenas como
um mestre religioso, mas como o modelo de humanidade verdadeira, aquele que
revela ao homem o que é o homem. Ele dizia: “O
mistério do homem só se esclarece verdadeiramente no mistério do Verbo
Encarnado”. (Gaudium et Spes, 22)
Assim, podemos reler o texto do Mestre Deivid
como uma jornada de iniciação que espelha a vida de Cristo e os ensinamentos de
João Paulo II sobre o amor, a liberdade, o sofrimento e a missão.
O
retorno à vulnerabilidade: o caminho do discipulado
“Nunca imaginei que retornaria a um
estado de vulnerabilidade...”
Jesus, mesmo sendo Filho de Deus, assumiu a
condição de servo, frágil e humano. João Paulo II insiste que o verdadeiro caminho
cristão é aquele que aceita a cruz, a humildade e o esvaziamento de si.
Aqui, o Mestre Deivid reconhece que, mesmo
após “ter vencido as trevas”, ele precisa recomeçar. Isso lembra o que Jesus
disse a Nicodemos: “É necessário nascer de novo”. (João
3:7).
Na espiritualidade cristã, recomeçar não é
sinal de fracasso, mas de maturidade. Só quem é forte aceita voltar à base para
crescer de forma mais sólida. O verdadeiro iniciado, como o verdadeiro
discípulo de Jesus, sabe que o caminho nunca termina.
Trabalho
e fidelidade: o valor da perseverança
“Trabalhei
arduamente… conquistei o mestrado, provando minha inocência e lealdade...”
Jesus passou trinta anos em silêncio, em
trabalho cotidiano, antes de iniciar sua missão pública. João Paulo II ensinava
que a dignidade do homem está no trabalho feito com amor e sentido.
O texto, do Mestre Deivid, mostra que o
iniciado não busca glória rápida, mas valoriza o processo, o aprendizado, o
dever cumprido. Isso lembra a parábola dos talentos, em que o servo fiel é
recompensado não pelo que tem, mas pelo que faz com o que recebe.
A “lealdade à Grande Obra” reflete o espírito
de Jesus que disse: “Minha comida é fazer a vontade
daquele que me enviou e completar a sua obra”. (João 4:34)
Silêncio, barro e chamado: imagem da
encarnação
“Como um
recipiendário de barro, animado e conduzido por um Ser Supremo...”
Essa imagem é profundamente bíblica. Em
Isaías e em Jeremias, Deus é o oleiro, e nós somos vasos de barro moldados por
Suas mãos. Jesus também assumiu a carne humana como barro frágil, para mostrar
que a glória de Deus se manifesta na fraqueza.
João Paulo II dizia que o chamado de Deus não
grita, ele sussurra no silêncio, como quando Jesus se retirava para orar.
Neste trecho, o iniciado experimenta uma
passagem espiritual, não com guerras e trovões, mas com silêncio e
transformação. É o mesmo que ocorreu com os discípulos no caminho de Emaús — o
Cristo ressuscitado se revelou no partir do pão, discretamente, como luz que se
acende no íntimo.
A luz
renovada: fidelidade ao primeiro amor
“A luz é novamente
concedida a mim...”
A “luz” aqui pode ser entendida como a graça,
a presença divina que ilumina o caminho. Jesus disse: “Eu
sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas”. (João 8:12)
João Paulo II sempre reforçou que a graça não
se recebe uma vez só. Ela precisa ser constantemente renovada na liberdade e na
abertura do coração.
O iniciado retoma seu compromisso com o
“primeiro amor” — o momento original em que decidiu caminhar com retidão. Isso
reflete as palavras de Cristo à Igreja de Éfeso no Apocalipse: “Tenho contra ti que abandonaste o teu primeiro amor.
Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta às obras de antes”.
(Apocalipse 2:4-5)
A chave
do amor, da evolução e da fecundidade espiritual
“...esta chave,
confiada a mim, abrirá os caminhos... Amar, evoluir e frutificar”.
João Paulo II ensinava que o ser humano só se
realiza na doação de si mesmo. Isso é o que significa amar no estilo de Jesus:
não um sentimento apenas, mas um compromisso ativo, um fruto da liberdade.
Ø Amar: como Jesus ensinou — até o fim, até os que
o traíram.
Ø Evoluir: no sentido cristão, é aproximar-se da
imagem de Deus em nós.
Ø Frutificar: dar frutos como os da videira — vida que
gera vida.
A “chave” é, portanto, o poder da
responsabilidade, do compromisso com os outros e com Deus. É aquilo que Jesus
confiou a Pedro: “Dar-te-ei as chaves do Reino...” (Mateus
16:19)
Conclusão:
O Mestre como servo e peregrino
O título “Aquele que entendeu que o caminho
nunca acaba” reflete o próprio Cristo, que não parou em nenhum ponto fixo, mas
viveu em constante missão, sempre indo ao encontro do outro.
João Paulo II dizia que a vida cristã é uma
peregrinação contínua, um caminhar com Cristo, sendo mestre sem deixar de ser
discípulo, e servo mesmo sendo elevado.
O iniciado que reconhece que “o caminho nunca
acaba” é aquele que compreendeu o maior ensinamento de Jesus: “Quem quiser ser o maior entre vocês, seja aquele que
serve”. (Mateus 23:11)
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