A Graça de amar e sem nada esperar

Poeta Hiran de Melo

Resolvi sentar-me à beira do instante, no Mais Conveniência, com uma latinha de cerveja entre os dedos. O tempo escorria lento, como espuma que se desfaz, e eu apenas deixava a hora se aproximar — sem urgência, sem cobrança.

O sentido da vida talvez seja simples: levantar paredes para abrigar sonhos, escrever palavras que se tornem memória, ensinar filhos a caminhar com passos firmes. Já cumpri esses ritos, e agora me resta o silêncio doce da espera, a partida sem destino certo.

Mestre Marçal dizia que amar a companheira é também parte da obra. Mas não falou em ser amado — e nisso havia sabedoria. O amor verdadeiro não pede retorno, não exige moeda de troca. Ele é dádiva, graça pura: como o vento que acaricia sem esperar resposta, como a luz que se derrama sem escolher destino.

Assim sigo, entre goles e pensamentos, aprendendo que viver é amar sem medida. E partir será apenas mais um gesto de entrega, suave como o cair da tarde.

Amada amiga, deixo-te um segredo: não me importa em que lugar eu esteja — se em Campina Grande ou Paris. O que me importa é com quem caminho, com qual companhia compartilho a presença.

Minha alegria sempre foi ser presença na vida do outro ser.

Já não assisto novelas, tampouco filmes. Gostava de vê-los de mãos dadas com a bem-amada, não pela trama, mas pelo gesto de estar junto, de participar do que lhe dava prazer.

Sou um ser lançado em um mundo de rápidas transformações e, embora responda às mudanças com serenidade, guardo em mim uma visão romântica de existir.

Este é meu até breve: não como ruptura, mas como celebração. A vida foi feita de encontros, de gestos simples, de presenças silenciosas. Amar sem nada esperar foi minha obra, e nela encontro a graça de partir — leve, como quem agradece ao dia que se despede no horizonte.


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